
Pra quem não sabe o
Marquee Club, em Londres, é um lugarzinho meia-boca, de quinta categoria, que entre seus méritos vulgares está o de ser o muquifo (ou melhor, moquiço) onde os
Stones fizeram sua primeira apresentação ao vivo, em 12 de julho de 1962. Ele foi aberto em 1958 na rua Oxford, nº 165, sustentando-se com apresentações de bandas de jazz e skiffle. Em 1964 mudou-se para a rua Wardour, nº 90, um lugarzinho um poco melhor que permitiu a
apresentação de sujeitos de má reputação típicos do rock inglês do início dos anos 60, com aquela mescla horrorizante de rhytm'n'blues que incomodava pra cacete.
Entre esses carnes-de-pescoço estavam
The Moody Blues,
The Who,
Yes,
David Bowie,
Jethro Tull,
The Jimi Hendrix Experience e
Pink Floyd tocando NAS JOVENS TARDES DE DOMINGO como parte do

Spontaneous Underground. Em 1961 o proprietário do Marque,
Harold Pendleton (quer nome mais inglês que esse?) lançou o
Festival Nacional de Jazz em Richmond, Surrey, o precursor do
Reading Festival. Você não conhece o Reading Festival? Nunca ouviu falar? Então vai pesquisar, criança...
Visite o
site do Marquee. É lenda no rock inglês, como o
Savoy Balroom foi no blues e R&B estadunidense.
Já com relação a essa bandinha chamada
Sweet, ela tem seu marco na história, embora pouco visitado. No Lágrima Psicodélica tem postagens da discografia completa dos manés. Álbum a álbum, com aquelas resenhas a estilo Delta9, cheias de inutilidades irrelevantes.
Sweet Live at the Marquee Club, London 1986.Aqui o Sweet estava sem o
Brian Connolly e o
Steve Priest, vocal e baixo, respectivamente (esses polissílabos paroxítonos não acentuados são espetaculares, não são?). O primeiro saiu primeiro e o segundo... saiu depois!
Priest ainda fez parte do power-trio que lançou três álbuns; então disse "hasta la vista, babies!". Caiu na estrada, perigas ver...

O excelente e pouco incensado guitarrista
Andy Scott e o maravilhoso baterista
Mick Tucker continuaram. Chamaram o
Paul Mario Day, ex-vocalista do
Iron Maiden,
More e
Wildfire e partiram pra estrada, juntamente com
Malcolm McNulty, no baixo e com o acréscimo do tecladista
Phil Lanzon (antes os teclados eram feitos pelo Andy Scott também).
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84MB, 128Kbps
Essa apresentação realizada no Marquee Club nos dias 11, 12 e 13 de fevereiro de 1986 (de quarta a sexta, casa cheia) é uma delícia! Faz lembrar muuuito os bons tempos do Sweet. E o vocal de Paul Mario Day, muito na dele, está excelente.
As principais músicas estão alí. Lamento não estarem outras muito boas. Mas pra viagem tá bããooo demais.
Eis as chansons:
01 ActionClaro que o show tem que começar com o grito de guerra "We love Sweet" (aliás, anterior ao "We want Kiss", sabiam?). Daí inicia
Action em mais uma de suas inúmeras versões, mantendo sempre a linha fundamental. A gente percebe a diferença no vocal (repito: Paul Day não deve nada a ninguém), mas a guitarra e os backing vocals são os mesmos. A banda já ganha a galera de cara... Agora, se a alavanca do Andy quebrar... ele tá no saco! E outra coisa: como disse com muita propriedade o Steve Priest, a "caixa de força" da banda é mesmo o Mick Tucker... que baterista duca!!
02 Sweet F.A.Um clássico da banda e um dos primeiros "pokotós" do hard rock. Ecos impecáveis; os mesmos backings vocals, o sincronismo entre o baixo e batera ótimos; os "gritinhos à la Massacration" do Paul Day são um desbunde. Ele se diverte pra caralho (e nós também, por tabela). Os arranjos em sua grande parte estão muito encima dos gravados no álbum
Sweet Fanny Adams. Claro, um finalzinho apoteótico...
03 Love is like oxigen / Fanfare for the common manA música está um pouco mais acelarada e mais hard e... Isso mesmo: eles a intercalaram com o excelente tema clássico do
Emerson, Lake and Palmer. Um primor de homenagem, com teclados perfeitos. Embora ficou faltando a parte mais progressiva da música
Love is like oxigen (com um pegadinha funk) que eu adoro. O vocal do Paul Day está impecável, interpretação própria e justa, sem diminutas que a superlativem.
04 RestlessO bate-estacas é o mesmo. E o "too late now" que sempre me lembrará "all right now", do
Free? E esse Phil Lanzon sabe o que faz nos "ebones and ivorys". E já emendam com a seguinte...
05 No you don'tSe o Steve Priest detonava nos vocais dessa, o Paul Day mandou muito bem. Grande música, grande músicos... e tome "pokotó".
06 Guitar segueAgora é o rei da alavanca! Sei lá se é improviso... mas que improviso!
Jimi Hendrix iria adorar essa barulheira toda. Ou não. (Paulinha é quem sabe...)
07 Someone else willVocê que conhece o som do Sweet, sentiu falta do tema de
David Rose (
The Striper), de 1962? A gente imagina que a qualquer momento aparecerá um telão com "aquelas bocas"... Isso é um hard rock de primeiríssima qualidade.
08 Drum soloE tome 3 minutos de solo de batera. (Caralho, esse Mick Tucker sabe bater um bumbo...)
09 Set me freeSinceridade? Não gostei da introdução. Mas
Set me Free é
Set me Free! E com alguns trechinhos trash! (ops). E aos dois minutos e poucos um diálogo entre guitarra e teclados "à la Jornal Nacional" (poutz!!). Aos quatro minutos somem os ecos originais cantados pelo Brian e surge um "spiritualized" improvável (mas com gritinhos). E Paul começa a brincar com o público que demora um pouco pra acordar.
10 Ballroom blitzPara muitos o clássico absoluto do
Sweet. Pelo menos é a mais conhecida. Mas perdeu um pouco sem o checklist original (mas nem podia, é ou não é?). Mais um diálogo jazzístico entre guitarra e piano aos dois minutos e meio quando vem uma grata surprêsa:
I'm Not Talking, dos
Yardbirds. Um barato. E dê-lhe Ballroom Blitz.
11 Fox on the runAndy Scott anuncia essa como sendo a última do show. Outra "pedra preciosa" da banda. E não é que mostraram o high-pitch? Ainda gosto mais do vocal do Brian Connolly. Mas não tem como deixar de respeitar um vocalista bom como esse tal de Paul Mario Day. E aquele final apoteótico de garotinho que conseguiu perder a vingindade com a
Gisele Bündchen?... quando voltam com o Love is like oxigen. E os garotinhos ovacionando... (mamãe quero mais Gisele!).
E assim termina a farra ao vivo. As outras músicas são em estúdio e boas também. Mas estão lhes faltando-lhes glamour! Grana eles tinham...
12 Shot down in flamesÉ um "pá-túm-túm", sem grandes conseqüências. Me parece um estilo "à la
Europe". Peço que me corrijam... Bom solo de guitarra e arranjos vocais, mas, na minha porca opinião, nada além do esperado.
13 Over my headClaro, bons vocais (me parece com um "fazerzin"), mas muito pop pro meu gosto. Altamente dançável. Tudo equalizado muito igual; deviam ter dado mais destaque para o solo de guitarra, por exemplo; o vocal está um pouco atrás. A linha de baixo é a básica, mas boa. Poderiam ter enfeitado mais.
14 Jump the fenceJá havia sido gravada quando o Sweet era um trio com o Steve Priest. Uma reza com a bateria atrás, marcando, alguns efeitos legais, algumas quebras de compasso, um baixo grave puxando o samba, uma boa virada de bateria, gritinhos, gritinhos, e um pouco de psicodelia. Quando eu achei que estaria partindo para uma pega funk-soul boa... acaba em fade out. Pô. Magoei.
15 Reach out (I'll be there)É um "pokotó" eletrônico, bem dançante, bem pop. Parece-me que o Sweet estava tentando voltar ao bubblegum, emendando com o hino da pop-bubblegum-soul motown "
Reach Out I'll be there". De quem era, mesmo? Ora, mas é claro...
The Four Tops!! Música número 1 absoluto em todas as paradas de 1966. Excelente (com os Four Tops).
16 Gunner of love (demo)Pá-pum, pá-pum, paka-tá, paka-túm...
17 Fire in my heart (demo)Desperdício de baterista para uma batida tão-tão. Faltou criatividade, mas bons solos de guitarra e arranjos vocais característicos. Em certo ponto da música a tentativa de uma bridge teaser com a batera em "Pá, Pá-pá, Pá, Pá-pá, Pá, Pá-pá", prometendo mas não cumprindo.
18 Action (version 1988)E mais uma vez a imperecível, imorredoira, inexpugnável
Action. Porém, corrijam-me: parece-me o vocal do
Brian Connolly, mas um pouco derrubado.
Ou então o Paul Day encheu a macaca de porrada! Boa versão, no entanto. Mas esclareço: é a banda do Brian:
Brian Connolly's Sweet, ou BC'Sweet.
19 Ballroom blitz (version 1988)Mais uma versão da banda do Brian. O "checklist" inicial é improvável: "
Are you ready Steve? (Fuck you), Andy (haha), Mick (so fucks in hell)". Os fãns mais arraigados poderiam confirmar isso. Aliás, embora o arranjo esteja tão fiel ao original quanto possível, acabou ficando uma merda, salvo pela curiosidade...
20 Action (backtrack version 1988)E ei-la novamente. Ela, a sempre presente, a invencível, a indestrutível, a inabalável, a onipresente, a ubíqua. Escolha sua versão... Agora, quem canta... não faço a menor idéia!...
Bem, coisinhos e coisinhas. Deliciem-se com essa maravilhosa seleção do Sweet, especialmente (e muito especialmente mesmo) a apresentação no Marquee Club. Aguardo os comentários e críticas colaboradoras. Ou não. Paulinha é quem sabe...